O Nascimento de Afrodite no “Hino Homérico VI”

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Réplica de um vaso de figuras vermelhas representando o nascimento de Afrodite, a adesão de Eros a seu séquito e a recepção de Hermes e Posêidon (355-350 a.E.C.).

Uma outra representação do nascimento de Afrodite que é bastante similar a apresentada por Hesíodo na Teonogia é a versão presente no Hino Homérico VI – à Afrodite: nascida do mar, é recebida pelas Hórai, as deusas Estações, e levada à presença dos deuses olímpios, que ficam encantados com sua beleza e dentre eles alguns desejam tomá-la por esposa.

Os chamados Hinos Homéricos são composições poéticas de caráter proemial, isto é, são poemas que servem de proêmio (abertura/introdução) à performance de uma narrativa maior, como as contidas na Ilíada e na Odisseia. Embora não sejam aceitas como composições do próprio Homero (que também não é uma figura de existência comprovada), os Hinos reproduzem temas míticos e a dicção dos poemas épicos homéricos, tendo possivelmente sido compostos por uma guilda de bardos chamados de homeridas.

Além do Hino Homérico VI, são dedicados à Afrodite também o hino (o maior dos três, com 293 versos) e X (o menor dos três, com apenas 6 versos).

A tradução que apresento hoje é a de Luiz Alberto Machado Cabral, integrante da sua coletânea dos Hinos Homéricos publicada pela editora Odysseus em 2010.

Hino Homérico VI – à Afrodite

Tradução: Luiz Alberto Machado Cabral

Cantarei a bela Afrodite, majestosa, auristéfana,
que tem por apanágio os cumes da equórea
Chipre, aonde o ímpeto úmido do sopro de Zéfiro
a leva sobre a onda do mar multimúrmure, à flor de
[5] uma suave’spuma. As Horas, áureos diademas,
em júbilo a recebem, e trajes divinos lhe vestem.
Cingem-lhe a fronte imortal com bela coroa de ouro,
de fino lavor, e enfeitam-lhe as orelhas formosas
com flores de oricalco e ouro precioso; em torno
[10] à cerviz delicada e ao peito, que’splende qual prata,
colocam-lhe colares de ouro, com que as Horas,
áureos diademas, soíam enfeitar-se ao se unirem
à deliciosa dança dos Deuses, no palácio do Pai.
E pós terem-lhe o corpo todo ataviado, aos eternos
[15] a levam. Os Deuses, ao verem a Diva, com ternura
a recebem e os braços lhe estendem. Cada qual
anelava esposá-la e à morada levá-la, tão fascinados
ficaram com a formosa Citereia, coroada de violetas.
Salve, Deusa, de olhos vivazes, de sorriso suave; dá-me
[20] neste concurso a vitória alcançar e inspira-me o canto;
de ti hei de lembrar-me e de uma distinta canção.

Os versos 1-18 foram musicados e cantados pelo grupo suíço Ensemble Melpomen e podem ser ouvidos e lidos em grego clicando aqui e rolando a página (ou fazendo uma busca) até a música Khýtera (o player de música fica abaixo da letra).

Referência

CABRAL, L.A.M. Hinos Homéricos: Hino I e do VI ao XXXIII. São Paulo: Odysseus, 2010. p. 77

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